Jamais traduzido para o português, este "O aventuroso Simplicissimus" é um daqueles grandes clássicos da literatura universal que fazia falta. Nele, Hans Jacob Christofell Grimmelshausen (1622-1676) nos fala de um mundo em convulsão. Um mundo em guerra onde os indivíduos estão sujeitos a um jogo de forças sustentado pelas diferenças entre classes do Ancien Régime. É um mundo de atrocidades, de fome, de desgraças. Ao mesmo tempo, cria um herói que, como o Quixote de Cervantes, já anuncia um indivíduo cujo valor se desenha para além daquelas distinções de classe. Simplicissimus é um herói que, sujeito aos desmandos que o desamparo impõe, luta com a esperteza, o escasso poder dos fracos, e por isso se converte num pícaro cujas proezas levam o leitor ao riso, mesmo diante de cenas de uma violência brutal. Mas não é só assim esse herói: ele também aprende. Da simplicidade mais radical, aquela que fabrica os ingênuos, os incapazes de perceber o mal, em sua tortuosa trajetória humana ele descobre o mecanismo viciado dos interesses e do arbítrio, que terminará por recusar de forma igualmente radical. E é nessa mistura do picaresco com o romance de formação, gênero que funda, que este livro se converteu numa das maiores obras em prosa do ocidente e um livro vivo e intenso ainda hoje. Uma experiência de leitura de fato inesquecível que finalmente o leitor brasileiro poderá experimentar.