O título deste trabalho - "Artes de Fazer na reforma escolar: a institucionalização dos Estudos Sociais no governo militar (Curitiba, 1975 - 1985)" - faz alusão a um princípio de Michel de Certeau e à sua obra A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer, que norteou metodologicamente a investigação realizada na dupla e difícil tarefa de pensar e escrever sobre as práticas escolares compreendidas como práticas sociais que podem ser tomadas como "táticas" ativas (de resistência ou de negociação )no cotidiano, o qual "se inventa com mil maneiras de caça não autorizada", segundo Certeau (1994, p. 38), que acredita na criatividade dos agentes históricos. O subtítulo remete à estruturação e implantação da área de Estudos Sociais no currículo do ensino de 1º grau, nas escolas municipais de Curitiba, durante aquele regime de exceção, através de um projeto curricular específico, que contou com a intervenção de alguns intelectuais da Universidade Federal do Parana - "Estudos sociais a partir da Longa duração" -, objeto central da nossa investigação, o qual priorizava especialmente a integração dos conteúdos de História e Geografia. Desse modo, o livro aborda a questão da reforma curricular no ensino das humanidades decorrente da Lei nº 5.692/71 e do Parecer nº 853/71, no contexto do regime militar no Brasil (1964-1985), e suas implicações no ensino de primeiro grau, especialmente com relação à disciplina escolar de História que, de acordo com a legislação, deveria integrar seus conteúdos com os de Geografia, Organização Social e Política Brasileira e Educação Moral e Cívica numa área mais ampla - a de Estudos Sociais. A análise desse processo histórico foi realizada através de três dimensões diversas, embora interligada: A) a cultura política, pensadas em termos dos interesses dominantes nas estratégias de planejamentos, de ordenações, e de discursos que controlam e disciplinam ações e visões de mundo; b) a cultura acadêmica, na perspectiva de dinâmica de seleção, produção e legitimação dos conhecimentos escolares; c) a cultura escolar, evidenciando-se as práticas pedagógicas que podem ter-se diferenciado das normalizações, por meio dos usos diversos daqueles que haviam sido impostos pelos constrangimentos políticos e das táticas ou movimentos de reação a esses modelos. Dessa forma, procurou-se subsidiar o debate e as reflexões sobre o significado das modificações então realizadas na área de humanidades, especialmente no plano municipal, e sobre a contribuição da História da Educação como campo de conhecimento útil para a análise e a superação do senso comum nas representações sociais acerca da educação em nosso país.