Após ser abandonada pelo homem que ama, trocada por uma jovem de maior poder social, escorraçada do lugar onde mora e arrancada dos bebês os quais deu à luz, a mulher, então, decide se vingar do responsável por cumulá-la de tantas tragédias. Ela escolhe, para isso, o mais aterrador dos atos: um filicídio.
A história dessa mãe que num momento de absoluta desgraça mata os próprios filhos poderia muito bem ser a da mítica Medeia, que Eurípides imortalizou em sua peça; mas aqui, nesta dramaturgia que passa a integrar a Coleção Dramas & Poéticas, tem outra protagonista, igualmente complexa: Bárbara, personagem que ganha existência numa atmosfera original e vibrante, construída pela maestria do ainda pouco conhecido dramaturgo argentino David Cureses.
O autor situa o drama, intitulado A fronteira, nos pampas de seu país, em meio à Conquista do Deserto, campanha militar que, no século XIX, opôs o exército invasor cristão a povos originários pela posse do território — numa guerra entre a dita “civilização” e a suposta “barbárie”. Esses dois mundos antagônicos retratados nas figuras da indígena Bárbara e do Capitão Jasão Ahumada deixam visíveis os temas que permanecem universais e conflituosos desde o início dos tempos: a traição e a justiça, a opressão e o amor, a violência e a vida.