Uma cultura teatral são os seus modos de ser e estar a serviço criativo do universo simbólico de uma determinada sociedade. Na fabricação da teatralidade, ela faz a mediação entre imaginário e realidade, palco e plateia. Mas a materialidade que sustém a obra cênica não ganha vida espontaneamente. São necessárias uma arte e uma técnica específicas.
No século XIX, a concepção dessa teatralidade se dá à moda do trabalho do ensaiador dramático, que esteve subordinado ao gênero dramático textual. O gênero — quadro da vida militar, opereta, farsa, revista, burleta, drama de casaca, drama histórico, peça de capa e espada, vaudeville, grand-guignol, comédia, sainete… — deveria ter uma tradução teatral específica, que refletisse o formato “literário” a ser conduzido à cena. Esse princípio era inclusive muito importante para que o espectador, ao pagar pelo bilhete que lhe dava acesso ao teatro, tivesse a certeza do que iria ver e ouvir, e nesse sentido a sua expectativa poderia ser correspondida ou não.
Manual do ensaiador dramático, que teve a primeira edição em 1890, é o compêndio que sintetiza os alicerces do trabalho teatral luso-brasileiro praticado ao longo de todo o século XIX e difundido, no caso do Brasil, até a primeira metade do século XX.
Walter Lima Torres Neto