Trinta anos separam as duas obras analisadas neste livro. Uma distopia e uma utopia distanciadas por três décadas. Mas esses romances verdadeiramente representariam pontos de vista opostos de um mesmo olhar sobre a sociedade humana, suas possibilidades e suas monstruosidades? Não seria o tempo a única distância que realmente separa os dois textos?
Nesta obra necessária, a discussão proposta por Evanir Pavloski comprova que o espaço entre o sonho utópico e o terror distópico (ou seria o inverso?) pode ser muito mais curto do que o idealismo é muitas vezes capaz de vislumbrar. O estudo ainda demonstra que Admirável mundo novo (1932) e A ilha (1962) se complementam na perspectiva analítica e retórica do autor Aldous Huxley, segundo a qual a estabilidade pode se tornar estagnação, a identidade pode se converter em homogeneidade e a comunidade pode se revelar uma prisão, talvez dourada, mas ainda assim uma prisão.
Da mesma forma, o escritor britânico alerta que as sombras ao redor se tornam mais profundas quando é alcançado algum nível de iluminação ou quando é dado um passo adiante no caminho de algum idílio social. Nessa dinâmica, na qual o único aspecto perene é a mudança, é preciso lembrar e reforçar o canto do pássaro mainá, que, ao encerrar o último romance de Huxley, exorta: Atenção!