Em Que sabe de si, Guilherme Gontijo Flores, realiza, em primeiro lugar, uma arqueologia minuciosa e competente a respeito do mito de Édipo, historiando suas aparições ao longo da literatura grega e latina. Em segundo lugar, adota a perspectiva oposta: a de se permitir descrever as associações que lhe ocorrem conforme analisa o mito. Outra pessoa que executasse esse percurso duplo, bastante ousado, talvez não tivesse um resultado tão feliz quanto Flores obtém e que vem dentro de uma proposta maior do autor, já anunciada anteriormente em A mulher ventriloquada: o limite da linguagem em Arquíloco, quando propõe uma “filologia dos sonhos”: a possibilidade de uma voz autoral — pessoal e imaginativa — que seja capaz de ir além dos indícios materiais, dos quais pode (e deve) valer-se para dar sustentação a esse voo interpretativo.
Leonardo Antunes