É impossível diferenciar com segurança qual o campo de atuação da filosofia e qual o campo de atuação da literatura. A própria intenção de diferenciar campos distintos é empobrecedora - literatura e filosofia só podem existir a partir da linguagem, do diálogo e da reflexão. É a linguagem que alimenta os campos da filosofia e da literatura ao longo da história, tornando possível um jogo muito produtivo: às vezes é preciso ler a filosofia coo se fosse uma literatura e ler a literatura como se fosse filosofia. Uma série de referências são mobilizadas buscando apresentar certas características de um cenário complexo e heterogêneo, aquele das relações entre literatura e filosofia e dos modos como a linguagem atravessa e torna possível tal cenário. Partindo de figuras seminais do pensamento do século XX, como Walter Benjamin, Martin Heidegger e Aby Warburg, até chegar em autores mais próximos e igualmente determinantes, como Michel Foucault, Giorgio Agamben ou Richard Rorty, os capítulos deste livro compartilham a mesma questão de fundo: todo ato de leitura e interpretação é uma performance de disputa, uma tomada de posição diante de gestos interpretativos anteriores e subsequentes..