Em março de 2007, foi escrito um manifesto por diversos autores que se expressam na língua de Molière, cujo teor foi a reivindicação pelo reconhecimento de uma “literatura-mundo em francês”. Koffi Kwahulé, dramaturgo nascido na Costa do Marfim em 1956, foi um dos signatários dessa declaração, que propunha um deslocamento político no uso social e ficcional do idioma.
Sabe-se que uma cultura teatral são os seus modos de ser e estar a serviço criativo do universo simbólico de uma determinada sociedade. Hoje, a dramaturgia emerge de uma cultura teatral globalizada no tocante aos seus conteúdos e à exploração de novas formas narrativas. Na fabricação da teatralidade, é a palavra quem protagoniza a mediação entre imaginário e realidade, palco e plateia. E a materialidade que sustém a obra cênica não ganha vida espontaneamente, sendo fundamental o trabalho sobre a palavra.
Kwahulé não omite de seu processo criativo o quanto escreve com um ouvido no jazz e outro na realidade na qual pretende engajar o leitor, o espectador. Jaz e Big Shoot são dois exemplares representativos da experiência do surpreendente e do monstruoso, do trágico e do vazio que habitam nossas relações. Aqui estão, poeticamente elaboradas, tanto uma violência contra a palavra incerta e insegura quanto contra um corpo que, ao mesmo tempo que atrai e fascina, repele e repugna.
Walter Lima Torres Neto